sexta-feira, 21 de outubro de 2011

CRATO : História da Cidade



Segundo alguns historiadores, a primeira penetração no território do Cariai se deu no último quartel do século XVII, chefiada pelos irmãos Lobato Lira. Faziam parte da bandeira um padre secular e um frade capuchinho, os quais, conquistando a confiança dos índios cariris, conseguiram aldeá-los.
Subindo os exploradores o curso do rio Salgado, que banha o fértil vale do Cariai instalaram nas imediações da cachoeira dos Cariris, hoje conhecida por cachoeira de Missão Velha, o primeiro aldeamento dos índios. Mais tarde, às margens do rio Itaitera - nome indígena que significa "água. que corre entre pedras" - precisamente no lugar onde assenta a cidade do Crato, instalou-se o maior e mais
importante núcleo dos silvícolas na região. O aldeamento fundado por frei Carlos Maria de Ferrara denominou-se Missão do Miranda, em lembrança, parece, de um dos chefes da tribo batizado com esse nome. Aparacem também as denominações de Miranda e dos Cariris Novos.
A Missão do Miranda era administrada pelos frades da Ordem dos Capuchinhos. Graças à fertilidade do solo e ao crescente desenvolvimento do cultivo da cana-de-açúcar, mandioca e cereais, além da abundância de água, o antigo aldeamento transformou-se em próspero povoado, principalmente depois que Manuel Carneiro da Cunha e Manuel Rodrigues Ariosto requereram para si e seus herdeiros uma data de terras de sesmaria, com seis léguas de extensão e uma para cada lado do
rio Salgado.
Em março de 1762 foi criada a Paróquia, na aldeia do Miranda, sob a invocação de Nossa Senhora da Penha. No ano seguinte, em agôsto, foi mandada criar a vila, que em 1764 foi inaugurada com a denominação de Crato (7ª vila do Ceará), completando agora o seu 2º centenário.
Não se sabe ao certo a origem dessa denominação. Parece que foi dada em homenagem ao vilarejo português de Alentejo, construído sobre as ruínas de uma povoação remotíssima, que era chamada Ucrate ou Ocrate. "Todavia, é voz corrente na região do Cariai que o nome Crato é uma corruptela da palavra Curato, pois, inicialmente a. cidade se teria chamado Curato de São Fidélis de
Singuaringa, depois Curato de São Fidélis e. por fim, simplesmente Curato e daí Crato", segundo afirmam Raimundo Girão e Antônio Martins Filho na obra "O Ceará".
Foi Crato palco dos principais acontecimentos históricos do Ceará, desenrolados no primeiro quartel do século passado. Foi a única localidade cearense que aderiu ao movimento libertador de Pernambuco em 1817.
O diácono José Martiniano de Alencar e seu irmão Tristão Gonçalves de Alencar Araripe. frei Francisco de Santana, Pessoa e Inácio Tavares Gondim, prestigiados por Bárbara de Alencar, rica fazendeira e mãe dos dois primeiros, sublevaram a população do Crato e proclamaram aí a República que teve a duração de apenas 8 dias, restaurando-se o govêrno monárquico no dia 11 do mesmo mês.
Abortado o movimento, presos os chefes, escoltados e algemados, foram levados para a sede do Govêrno. D. Bárbara de Alencar conseguiu evadir-se. em companhia do vigário Manuel Carlos, sendo presos no termo do Rio do Peixe, na. Paraíba. Os membros da família Alencar e seus companheiros, em número de 25, foram enviados para Pernambuco. onde chegam a 27 de julho de 1818. Transferidos para, a Bahia, deram entrada no presídio a 9 de outubro do mesmo ano.
Finalmente, julgado nulo o processo, em agosto de 1821, foram postos em liberdade. D. Bárbara fora solta em 1820 por ter sido incluída no perdão de 6 de fevereiro de 1819.
Outro episódio histórico de importância ocorreu alguns anos mais tarde.
Revoltando-se Pinto Madeira contra a ordem estabelecida com a abdicação de D. Pedro I, no dia 27 de dezembro de 1831, marcha com os revoltosos para atacar a vila do Crato, ferindo-se nesse dia sangrento combate no lugar denominado Biriti. Destroçadas as Fôrças que marcharam ao encontro de Pinto Madeira, ocupou este a vila no dia seguinte. Depois de vários e renhidos combates, Pinto Madeira rendeu-se com cerca de mil rebeldes. no dia 13 de outubro, ao general Labatut. Preso e condenado à pena de morte, foi fuzilado na manhã de 28 de novembro de 1834.
Nasceu em Crato, José Martiniano de Alencar que foi Presidente da Câmara dos Deputados, Senhor nomeado pela Regência e Governador do Estado do Ceará por duas vezes. Entre os seus dez filhos figura o romancista José de Alencar.
Origem do Topônimo: Vocábulo de origem portuguesa, certamente homenagem ao Vilarejo qual infante D. Miguel, depois do Rei Miguel I, foi o último Grão-Prior. Tal vilarejo está construído sobre as ruínas de uma povoação remotíssima chamada UCRATE ou UCRATO. Todavia, é voz corrente na região caririense que o nome Crato é um corrutela de palavra CURATO DE SÃO FIDÉLIS DE SIGUARINGA, depois CURATO DE SÃO FIDÉLIS e, por fim, simplesmente, CURATO e daí CRATO.
Formação Administrativa
Distrito criado com a denominação de Crato, pela provisão de 06-01-1768 e ato de 18-03-1842.
Elevado à categoria de vila com a denominação de Crato, em 17-06-08-1763. Sede no lugar chamado de Aldeia do Brejo.
Elevado à condição de cidade com denominação de Crato, pela lei provincial nº 628, de 17-10-1853.
Em divisão administrativa referente ao ano de 1911, o município é constituído do distrito sede.
Pela lei estadual nº 2359, de 26-07-1926, o distrito de Quixará deixa de pertencer ao município de Santana do Cariri, sendo anexado ao município de Crato.
Pelo decreto estadual nº 1156, de 04-12-1933, o município de Crato adquiriu os extintos municípios de Ipueiras, Lameira e Monte Pio. Sob o mesmo decreto é criado o distrito de Buriti e anexado ao município de Crato.
Em divisão administrativa referente ao ano de 1933, o município aparece constituído de 6 distritos: Crato, Buriti, Ipueiras, Lameiro, Monte Pio, Quixará.
Assim permanecendo em divisões territoriais datadas 31-XII-1937.
Pela lei nº 268, de 30-12-1938, desmembra do município de Crato os distritos de Quixará e Monte Pio. Para formar o novo município de Quixará.
Pelo decreto estadual nº 448, de 20-12-1938, o distrito de Ipueiras passou a denominar-se Dom Quintino. Sob o mesmo decreto é criado o distrito de Santa Fé, criado com terras desmembradas dos distritos de Dom Quintino ex-Ipueiras e Lameiro, ambos do município de Crato.
No quadro fixado para vigorar no período de 1939-1943, o município é constituído de 5 distritos: Crato, Buriti, Dom Quintino, Lameiro e Santa Fé.
Pelo decreto-lei estadual nº 1114, de 3-12-1943, o distrito de Buriti passou a denominar-se Muriti.
Em divisão territorial datada de 1-VII-1950, o município é constituído de 5 distritos: Crato, Dom Quintino, Lameiro, Muriti ex-Buriti e Santa Fé.
Pela lei estadual nº 3931, de 26-11-1957, é criado o distrito de Ponta da Serra ex-povoado, criado com terras desmembradas dos distritos de Santa Fé e Dom Quintino.
Em divisão territorial datada de 1-VII-1960, o município é constituído 6 distritos: Crato, Dom Quintino, Lameiro, Muriti, Ponta da Serra e Santa Fé.
Pela lei estadual nº 6696, de 18-10-11963, desmembra do município de Crato o distrito de Dom Quintino. Elevado à categoria de município.
Em divisão territorial datada de 31-XII-1963, o município é constituído de 5 distritos: Crato, Lameiro, Muriti, Ponta da Serra e Santa Fé.
Pela lei estadual nº 8339, de 14-12-1965, o município de Crato adquiriu o extinto município de Dom Quintino, como simples distrito.
Em divisão territorial datada de 31-XII-1968, o município é constituído de 6 distritos: Crato, Dom Quintino, Lameiro, Muriti, Ponta da Serra e Santa Fé.
Assim permanecendo em divisão territorial datada de 17-I-1991.
Pela lei municipal nº 1433, de 08-05-1991, é criado o distrito de de Padre Cicero e anexado ao município de Crato.
Pela lei municipal nº 1540, de de 05-05-1994, são criado os distrito de Baixio das Palmeiras, Belmonte, Campo Alegre, Monte Alverne e Santa Rosa anexado ao município de Crato. Sob a mesma lei o distrito de Padre Cicero passou a denominar-se Bela Vista e ainda esta lei extingui os distritos de Muriti e Lameiro.
Em divisão territorial datada de 1-VI-1995, o município é Constituído de 10 distritos: Crato, Baixio das Palmeiras, Belmonte, Campo Alegre, Dom Quintino, Monte Alverne, Bela Vista, Ponta Serra, Santa Fé e Santa Rosa.
Assim permanecendo em divisão territorial datada de 2005.
Gentílico: Crato


Fonte: Biblioteca IBGE

Historia de Crato



Por volta de 1741, surgem os primeiros registros de um aldeamento dos índios Cariús, pertencentes ao grupo silvícola Cariri. Era a Missão do Miranda, fundada por Frei Carlos Maria de Ferrara, religioso franciscano, nascido na Itália. Este frade ergueu, no centro da Missão, uma humilde capelinha de taipa (paredes feitas de barro) coberta com folhas de palmeiras, árvores abundantes na região. O santuário foi dedicado, de maneira especial, a Nossa Senhora da Penha, a São Fidelis de Sigmaringa e à Santíssima Trindade. Em volta da capelinha, ficavam as palhoças dos índios. Estes, além de cuidarem das plantações rudimentares, recebiam os incipientes ensinamentos da fé católica, ministrados por Frei Carlos. Aos poucos, nas imediações da Missão, elementos brancos foram construindo suas casas. Era o início da atual cidade do Crato. Não padece dúvidas de que o fundador do Crato foi o Frei Carlos Maria de Ferrara.

Vila Real do Crato

Em 21 de junho de 1764, a Missão do Miranda foi elevada à categoria de Vila, tendo seu nome mudado para Vila Real do Crato, em homenagem à homônima existente no Alentejo português. Com isso se cumpria o Aviso de 17 de junho de 1762, dirigido pela Secretaria dos Negócios Ultramarinos ao Governador de Pernambuco. Mencionado aviso autorizava o governador a criar novas vilas no Ceará, recomendando, entretanto, substituir a denominação dos povoados com nomes de localidades existentes em Portugal. A partir daí, a Vila Real do Crato foi trilhando a senda do processo civilizatório, sempre inspirado no que vinha de bom do Reino, ou seja, do que chegava da metrópole portuguesa. A marca do pioneirismo passaria a caracterizar a existência do Crato, como veremos nas linhas seguintes.

Anseios libertários

No primeiro quartel do século XIX, a Vila do Crato já se sobressaía entre as congêneres interioranas do Nordeste brasileiro. Residiam na vila, ou nas suas adjacências, famílias abastadas, possuidoras de patrimônio amealhado quase sempre, à custa das fainas agrícolas. Alguns jovens dessas famílias tinham o privilégio de aperfeiçoar seus conhecimentos em escolas da longínqua capital da Província de Pernambuco. Para lá se deslocavam, em longas e penosas viagens que duravam semanas. Sempre feitas em lombo de animais. Alguns desses estudantes retornavam ao torrão natal impregnados de idéias libertárias, assimiladas nas sociedades secretas, existentes em Olinda e Recife. Sonhavam esses jovens com um Brasil independente da metrópole portuguesa. Alguns iam mais longe. Acalentavam o sonho de mudar a forma de governo, substituindo - num eventual Brasil soberano - a monarquia pela experiência republicana já testada nos Estados Unidos da América e França.

Esses sonhos libertários resultaram no primeiro confronto ideológico ocorrido no Cariri. Os liberais eram liderados pelo subdiácono José Martiniano de Alencar, estudante do Seminário de Olinda e adepto dos princípios republicanos e laicos da Revolução Francesa de 1789. Foi este jovem enviado pelos líderes da Revolução Pernambucana de 1817, para deflagrar o processo revolucionário no conservador Vale do Cariri. Num gesto audaz e corajoso, no dia 3 de maio de 1817, José Martiniano de Alencar proclamou do púlpito da Matriz do Crato a independência do Brasil, sob o regime republicano. A contra-revolução veio rápida. Oito dias depois, Leandro Bezerra Monteiro, o mais importante proprietário rural do Cariri, dotado de profundas e arraigadas convicções católicas e monarquistas, pôs termo ao sonho do jovem José Martiniano de Alencar. Os revolucionários foram presos e enviados para as masmorras de Fortaleza e posteriormente para as de Salvador, na Bahia. Entre os prisioneiros estavam Tristão Gonçalves de Alencar Araripe e Dona Bárbara de Alencar, irmão e mãe de José Martiniano. Após sofrerem as agruras das prisões, por cerca de quatro anos, os revolucionários cratenses foram anistiados pela autoridade real. Por sua lealdade à Monarquia, Leandro Bezerra Monteiro, foi agraciado, pelo Imperador Dom Pedro I, com o posto de Brigadeiro, o primeiro a ser concedido no Brasil.

Um herói chamado Tristão

Em 1824, eclode nova revolução republicana em Pernambuco denominada “Confederação do Equador”. Este movimento uniu algumas lideranças das províncias de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte, descontentes com a Constituição outorgada pelo primeiro imperador brasileiro, Dom Pedro I. O movimento repercute intensamente no Crato.Tristão Gonçalves de Alencar Araripe aderiu, com todo entusiasmo e idealismo, à Confederação do Equador. Em 26 de agosto daquele ano, foi ele aclamado pelos rebeldes republicanos como Presidente do Ceará. Entretanto a reação do Governo Imperial foi implacável. As instruções para debelar o movimento eram assim sintetizadas: “(...) não admitir concessão ou capitulação, pois a rebeldes não se deve dar quartel”. Debelado o movimento restou a Tristão Araripe duas alternativas: exilar-se no exterior ou morrer lutando. Escolheu a última opção.

Nas suas pelejas, Tristão colecionou vários inimigos. Dentre eles um rancoroso proprietário rural, José Leão da Cunha Pereira. Este utilizou um seu capanga, Venceslau Alves de Almeida, para pôr fim à vida do herói da Confederação do Equador no Ceará. Tristão Araripe faleceu, em 31 de outubro de 1825, combatendo o grupo armado de José Leão, na localidade de Santa Rosa, hoje inundada pelas águas do Açude Castanhão. Morreu como queria: pelejando, graças a Deus!

O mártir da monarquia

O Cariri continuou, durante algum tempo, dividido entre simpatizantes da ideologia republicana e adeptos da Monarquia. O confronto dessas idéias foi motivo de contendas as mais variadas. Joaquim Pinto Madeira era o que poderíamos chamar de “caudilho”. Rico proprietário rural e chefe político da Vila de Jardim, era por índole um afeiçoado às coisas da Monarquia. Foi fundador da sociedade secreta “Trono do Altar”, que defendia a monarquia absoluta. Lutou ele, ativamente, contra os promotores dos movimentos libertário-republicanos da Revolução Pernambucana de 1817 e da Confederação do Equador de 1824. Após a derrota da família Alencar, em 1817, coube a Pinto Madeira, à época ocupando o posto de Capitão de Ordenança, conduzir até a cidade de Icó os 20 malogrados presos políticos. Provavelmente, durante o percurso, esses prisioneiros sofreram humilhações por parte do caudilho. O que era esperado, face ao temperamento belicoso de Pinto Madeira.

Em 1831 o imperador Dom Pedro I abdica do trono brasileiro e volta para Portugal, onde toma o nome de Dom Pedro IV. Os adversários de Pinto Madeira aproveitaram esse acontecimento para dele se vingar. Acuado, o caudilho, com a ajuda do vigário de Jardim, Padre Antônio Manuel de Sousa, armou cerca de dois mil homens, a maioria com rudimentares espingardas, e invadiu o Crato, em 1832, para dar caça aos seus inimigos liberais. Dizem que de tanto abençoar as espingardas dos jagunços e, na falta destas, dar bênçãos a cacetes (pequenos bastões de madeira) o Padre Antônio Manuel de Sousa ficou conhecido como "Padre Benze-Cacetes". Pinto Madeira e o Vigário Manuel foram vitoriosos no Crato, mas logo começaram a sofrer reveses. Terminaram por se render ao General Pedro Labatut, um mercenário francês que atuava no Brasil, desde as lutas pela independência. Presos, ambos foram enviados para Recife e depois para o Maranhão. Pinto Madeira retornou preso ao Crato, em 1834, onde, num júri parcial - composto por antigos inimigos seus - foi condenado à forca, sentença posteriormente comutada para fuzilamento, em face do réu ter alegado sua patente militar de Coronel.

“Morreu virilmente Pinto Madeira. Conta a tradição, ouvida por mim desde menino, que momentos antes do fuzilamento, ofereceu-lhe um lenço, para que vedasse os olhos, um dos seus mais implacáveis inimigos. Recusou o condenado a oferta (...) Durante anos a fio, fez-lhe promessas o rude povo do sertão, considerando-o um mártir, isto é um santo”.

Irineu Pinheiro, “Joaquim Pinto Madeira” Imprensa Oficial do Ceará.Fortaleza, 1946, página 21.

Um sonho não concretizado: Crato capital do Cariri

Já em 1828, a Câmara de Vereadores do Crato encaminhava representação ao Governo mostrando a oportunidade de criação da Província do Cariri Novo. Não foi atendida nessa pretensão. A idéia voltou à tona, em 14 de agosto de 1839, quando o senador José Martiniano de Alencar, do Partido Liberal, apresentava no Senado do Império do Brasil projeto de lei cujo artigo 1º dizia textualmente: “Fica criada uma nova província que se denominará Província do Cariri Novo, cuja capital será a Vila do Crato”.

Os demais artigos desse projeto de lei tratavam sobre os limites geográficos da nova unidade do Império do Brasil que incluíam municípios do sul do Ceará e os limítrofes das Províncias da Paraíba, Pernambuco e Piauí. Com a ascensão do Partido Conservador ao poder, o projeto de lei não prosperou. Anos depois, através do jornal “Diário do Rio de Janeiro”, voltava o senador Martiniano de Alencar a defender sua idéia de criação da Província do Cariri. Tudo ficou só num sonho.

O pioneirismo do Crato

As brigas fratricidas ficam para trás. Em 1855, a 7 de julho, é fundado no Crato o primeiro jornal do interior do Ceará. Trata-se do semanário “O Araripe”, cujo proprietário é o jornalista João Brígido dos Santos, ligado ao Partido Liberal. No último quartel do século XIX, a população do Crato já não se ocupa das brigas políticas. A sociedade cratense volta suas vistas para conquistas no campo da educação que perduram até os dias atuais. Em 1874, o primeiro bispo do Ceará, Dom Luiz Antônio dos Santos, atendendo à sugestão de um filho do Crato, Padre Cícero Romão Batista, fixa residência temporária nesta cidade, com o objetivo de construir um Seminário, a funcionar como um suplementar do Seminário Episcopal, existente na sede da diocese, Fortaleza, distante cerca de 600 Km do Cariri. Em 1º de março de 1875, ainda de forma precária, o Seminário São José do Crato é colocado em funcionamento.

Em 8 de dezembro de 1908, o vigário Pe. Quintino Rodrigues de Oliveira e Silva, convoca as autoridades e lideranças da cidade, com o objetivo de solicitar ao Bispo do Ceará encaminhar a Santa Sé o pedido de criação da diocese do Crato. É formada uma comissão com as lideranças e os notáveis da terra para os trabalhos preparatórios da nova diocese.

Em 20 de outubro de 1914, o Papa Bento XV, através da Bula “Catholicae Ecclesiae”, cria a diocese do Crato, a primeira do interior do Ceará. Em 10 de março de 1915, o vigário Quintino é preconizado primeiro bispo da nova igreja particular. A partir de então, diversas iniciativas da Diocese do Crato são responsáveis pelo surto de progresso sentido na cidade. Uma delas a criação, em 1921, da primeira instituição de crédito do Sul do Ceará, o Banco do Cariri, que presta grandes benefícios ao comércio e à lavoura da região.

Em 1922, Dom Quintino torna-se o pioneiro do ensino superior, no interior do Ceará, porquanto dota o Seminário São José de Curso Teológico. Este, sub-dividido em Curso de Filosofia, feito em dois anos, e Curso de Teologia, em quatro anos, proporciona ao novo presbítero receber no Crato a licenciatura plena. Dom Quintino planta, assim, a semente germinativa da Faculdade de Filosofia do Crato (criada em 1959) que foi, por sua vez, o embrião da atual Universidade Regional do Cariri (URCA), criada em 1986. Esta universidade leva a instrução superior in loco à vasta área do Estado do Ceará. E recebe no Crato alunos residentes nos Estados do Piauí, Paraíba e Pernambuco. Hoje, o Crato é um dos mais importantes pólos do ensino universitário, no Nordeste brasileiro.

Encerremos com outro registro. Em 1946, há quase sessenta anos, quando não se fala em ecologia ou biodiversidade, o Crato é palco de nova ação pioneira. Através do Decreto n° 9.226 de 02 de maio de 1946, o Governo Federal cria a primeira reserva florestal do Brasil. Trata-se da Floresta Nacional do Araripe, que tem boa parte da sua reserva encravada no Município do Crato. Constituída por mata primária, clima ameno, além de possuir boa variedade de fauna e flora nativas, fontes naturais, pequenas grutas e fósseis, a Floresta Nacional do Araripe vem permitindo a pesquisa científica, recreação e lazer, educação ambiental, manejo florestal sustentável e turismo.

É o Crato pioneiro. Sempre à frente dos acontecimentos futuros...



Texto:Armando Lopes Rafael , historiador.

Referências bibliográficas:

ALBUM HISTÓRICO DO SEMINÁRIO EPISCOPAL DO CRATO. Rio de Janeiro: Typografia Revista dos Tribunaes,1925. 245 p.

ALCÂNTARA, José Denizard Macedo de. Notas Preliminaresin Vida do Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro, autoria de J. Dias da Rocha Filho. 2 ed. Fortaleza: Secretaria da Cultura, Desporto e Promoção Social do Ceará, 1978. 170 p.

ARAÚJO, Padre Antônio Gomes. A Cidade de Frei Carlos. Crato (CE): Faculdade de Filosofia do Crato, 1971. 165 p.

FIGUEIREDO FILHO, J. Engenhos de Rapadurado Cariri.Rio de Janeiro: Ministério da Agricultura, 1958. 74 p.

LÓSSIO, Rubens Gondim. Artigo “Nossa Senhora da Penha de França, Padroeira do Crato” in revista “Itaytera”, ano VI, nº VI, órgão do Instituto Cultural do Cariri, Crato (CE), 1961. Tipografia A Ação.

NEVES, Napoleão Tavares. Cadernos do IPESC 1. Juazeiro do Norte: Edições IPESC-URCA, 1997. 24 p.

PINHEIRO, Irineu. Joaquim Pinto Madeira. Fortaleza: Imprensa Oficial do Ceará, 1946. 55 p.

PINHEIRO, Irineu.O Cariri.Fortaleza: Edição do Autor, 1950. 272 p.

PINHEIRO, Irineu. Efemérides do Cariri. Fortaleza: Imprensa Universitária do Ceará, 1963. 555 p.

RAFAEL, Armando Lopes. Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro: o contra-revolucionário do Cariri de 1817.Crato: Tipografia do Cariri, 2000. 28 p.

ROCHA FILHO, J. Dias da. Vida do Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro(1740-1831) Notas Preliminares de José Denizard Macedo de Alcântara. 2 ed. Fortaleza: Secretaria da Cultura, Desporto e Promoção Social do Ceará, 1978. 170 p.

SOBREIRA, Padre Azarias. O primeiro Bispo do Crato (Dom Quintino).Rio de Janeiro: Empresa Editora ABC Limitada, 1938. 183 p.

A cidade: História da Cidade




História do Crato
Etimologia da palavra Crato
Século XIX: influências de Pernambuco
Segunda metade do século XIX: Criação da Diocese, Caldeirão e outras mudanças
Economia
História do Crato
ESCRITO POR ADMINISTRATOR
QUA, 08 DE JUNHO DE 2011 08:27
As terras as margens do rio Jaguaribe-Mirim (e seus afluentes) e da Chapada do Araripe eram habitadas por diversas etnias indígenas, dentre elas os Kariri, Aquijiró, Guariú, Xocó, Quipapaú e tantas outras, antes da chegada das entradas e/ou missões religiosas dos portugueses, italianos, baianos, paraibanos e sergipanos. Entradas dos Sertões de Dentro e a Missão Capuchinha com a expulsão dos neerlandeses do nordeste brasileiro, os portugueses e outros brasileiros puderam adentrar e explorar melhor a terra do Siará Grande.

Acredita-se que primeira penetração no território do Cariri aconteceu durante século XVII, com a bandeira dos irmãos Lobato Lira. Desta bandeira, participaram dois religiosos: um padre secular e um frade capuchinho, que ganharam a confiança dos índios kariri e conseguiram aldeá-los. Estes exploradores subiram o leito do Jaguaribe-Mirim e instalaram nos arredores da cachoeira dos Karirys (cachoeira de Missão Velha).

Tempos depois, o frei capuchinho Carlos Maria de Ferrara organizou, às margens do rio Itaitera (água que corre entre pedras), o maior e mais importante aldeamento de silvícolas na região. Este recebeu o nome de "Missão do Miranda", em homenagem a um dos chefes da tribo batizado com esse nome. Mais tarde, também aparecem as denominações "Miranda" e "Cariris Novos". A Missão do Miranda, sob a administração dos capuchinhos, prosperou, devido à fertilidade do solo e abundância de água, que possibilitaram o cultivo da cana-de-açúcar, mandioca e cereais. Manuel Carneiro da Cunha e Manuel Rodrigues Ariosto requereram, através da lei de sesmaria, a posse das terras adjacentes ao Rio Salgado, fato que culminou na elevação da missão a povoação.

A primeira manifestação de apoio eclesiástico aconteceu em terras doadas pelo capitão-mor Domingos Álvares de Matos e sua mulher, Maria Ferreira da Silva. Essa doação localizava-se, inicialmente, em terras encravadas a dois quilômetros a sudeste da povoação, transferindo-se, em data posterior, para a margem direita do rio Granjeiro. Os trabalhos da primitiva Igreja, dedicada a Nossa Senhora da Penha de França, tiveram início em 1745, tendo como responsável, o frei Carlos Maria de Ferrara e seu companheiro frei Fidélis de Sigmaringa. Em 1762, foi criada a Paróquia, na aldeia do Miranda, sob a invocação de Nossa Senhora da Penha.

A edificação desse primitivo templo revela o atraso de sua época, considerando sua estrutura como as paredes de taipa, piso de barro batido e coberta de palhas, tendo ainda os caibros e ripas trançados de cipós. A permanência desses religiosos, no que se chamou de Missão do Miranda, estendeu-se por espaço de dez anos.

A freguesia criou-se por provisão de março do ano de 1762 e inaugurou-se a 4 de janeiro de 1768, tendo como seu primeiro vigário o padre Manuel Teixeira de Morais. Com o desgaste do tempo, a estrutura física entra em deterioração, situação que levou o padre Antônio Lopes de Macedo Júnior, pároco da Freguesia de Nossa Senhora da Penha, a endereçar requerimento à Junta do Real Erário, solicitando fundos necessários à construção da capela-mor ou igreja matriz. Atendido o seu pedido, iniciaram-se os trabalhos cuja conclusão data de 1817, constando os atos inaugurais de 3 de maio do mesmo ano.

A povoação de Miranda elevou-se à categoria de vila em 16 de dezembro de 1762, tendo sido instalada em 21 de junho de 1764 como Vila Real do Crato, no século XVIII, constituindo um dos mais importantes núcleos de povoamento na época colonial no interior do Nordeste. Foi tornada cidade pela Lei Provincial nº 628, de 17 de outubro de 1853.

Fonte: Wikipédia